Sabia, pois. Nas minhas aulas de Empreendedorismo no ISCTE, os alunos de mestrado com experiência empreendedora confrontam-me com isso todas as aulas: “não podemos ‘fiar’ a ninguém a começar pelo Estado”. E sem crédito como pode uma economia funcionar? Nos últimos dois ou três anos temo-nos multiplicado em acções de promoção do empreendedorismo: educação primária, secundária e superior; formação; conferências; legislação; esquemas de financiamento; mentoria... um sem número de acções por todo o lado e por todo o país. Contudo nenhuma actividade empreendedora sustentada se pode desenrolar neste pôr de lado a consciência e colocar a ausência de vergonha no seu lugar.
A riqueza de um país depende da produtividade dos seus cidadãos que, por seu turno, depende dos recursos, da tecnologia e da organização. Muitos países – o Japão e outras economias asiáticas são disso um exemplo – conseguiram ultrapassar a ausência de recursos naturais devido aos avanços tecnológicos e à organização. Como os obstáculos internacionais à aquisição de tecnologia estão hoje quase desaparecidos, o elemento último, a necessidade crucial para se aumentar a produtividade e, consequentemente, a riqueza é o desenvolvimento de uma boa organização. Mas a organização não existe num vácuo, ela opera em sistema, é parte de um grupo de elementos interdependentes e inter-relacionados que formam um todo complexo, isto é, o comportamento de determinados elementos afecta o comportamento de todos os outros.
Se temos como prática pagar tarde ou não pagar, aqueles a quem devemos também não poderão pagar a quem devem, num efeito em cadeia que rapidamente se transforma em bola de neve e que, em sistema, nos vai de novo afectar também. E é assim que o desastre surge na vida e nela vai abrindo o seu caminho. A princípio é uma coisita sem importância, oculta em qualquer canto sombrio, mas acaba por tornar inoperante toda a economia.
A riqueza de um país depende da produtividade dos seus cidadãos que, por seu turno, depende dos recursos, da tecnologia e da organização. Muitos países – o Japão e outras economias asiáticas são disso um exemplo – conseguiram ultrapassar a ausência de recursos naturais devido aos avanços tecnológicos e à organização. Como os obstáculos internacionais à aquisição de tecnologia estão hoje quase desaparecidos, o elemento último, a necessidade crucial para se aumentar a produtividade e, consequentemente, a riqueza é o desenvolvimento de uma boa organização. Mas a organização não existe num vácuo, ela opera em sistema, é parte de um grupo de elementos interdependentes e inter-relacionados que formam um todo complexo, isto é, o comportamento de determinados elementos afecta o comportamento de todos os outros.
Se temos como prática pagar tarde ou não pagar, aqueles a quem devemos também não poderão pagar a quem devem, num efeito em cadeia que rapidamente se transforma em bola de neve e que, em sistema, nos vai de novo afectar também. E é assim que o desastre surge na vida e nela vai abrindo o seu caminho. A princípio é uma coisita sem importância, oculta em qualquer canto sombrio, mas acaba por tornar inoperante toda a economia.
O à-vontade, a norma que se instalou entre nós do não pagar como legítimo, socialmente aceite e até representativo de uma certa sagacidade nos negócios – como ilustra o ditado “pagar e morrer quanto mais tarde melhor” – entra na esfera dos princípios morais. Como tal, é vago e abstracto e a sua aplicação aos negócios é frequentemente indeterminada e difícil de executar. Ele traz também muitas outras coisas indesejáveis como a falta de confiança, obviamente generalizada na nossa economia e que, como todos sabemos, impõe elevados custos de transacção e, portanto, rudes golpes no empreendedorismo. O emprendedorismo poderá levar à prosperidade do nosso país, mas o simples desejo de prosperidade não chega para que o empreendedorismo seja um êxito. O facto de se acender lume não significa que haja comida para cozinhar.
Se, neste princípio de 2007, de entre tantos e tão complexos problemas que a nossa economia tem, me pedissem para eleger um, eu escolheria esta indiferença à necessidade de pagar como aquele que mais urge combater. Fechando os olhos e cerrando os punhos pediria dois desejos:
(1) que o Estado não seja como a mãe caranguejo que teima em ensinar os seus filhos a andar a direito. Um Estado que não cumpre os seus prazos de pagamento não pode inspirar os seus cidadãos a que o façam;
(2) que todos nós, cidadãos, saibamos que não podemos passar a vida a enganar, senão acabaremos por nos enganar a nós próprios.
Porque isto aqui não é inferno.
Virgínia Trigo
Texto publicado pela primeira vez no Jornal de Negócios a 02.01.2007
Sem comentários:
Enviar um comentário