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4/27/2012

ARTIGO AUDAX - empreendedorismo jovem: uma questão de atitude


Empreendedorismo jovem: uma questão de atitude

O empreendedorismo assume um papel fundamental na resolução dos desafios globais do século XXI, com vista à construção de um desenvolvimento sustentável onde a criação de emprego, a busca pelo bem-estar humano e um renovado crescimento económico-social são factores chave. É também um agente de mudança social, contribuindo nas idades mais jovens para a criação de oportunidades de emprego, para reter jovens no País, fomentar a riqueza para a sociedade e contribuir para o desenvolvimento da Comunidade.

Ao mesmo tempo que a sociedade actual enfrenta enormes desafios globais, que se estendem além da economia, somos igualmente confrontados, segundo as últimas estatísticas do Eurostat, com uma taxa de desemprego de 35,1%, entre a população mais jovem, multiplicando-se iniciativas e incentivos ao empreendedorismo jovem.

Na certeza de que não faltam exemplos de jovens empreendedores e da riqueza destas iniciativas, apenas com um entendimento colectivo e uma estratégia concertada entre entidades governamentais, organizações empresariais e da sociedade civil e instituições de ensino é que poderemos obter resultados sustentáveis ao nível do empreendedorismo jovem.

Para o efeito é necessário desenvolver mecanismos jurídicos, fiscais e estruturais de apoio e incentivo a que se criem as condições necessárias para que um jovem possa ser responsável por si e pela sociedade em que está inserido.

É ainda fundamental desenvolver uma estratégia de Educação para o Empreendedorismo, onde qualquer jovem tenha conhecimento de como empreender e transformar uma oportunidade/necessidade de mercado em realidade, bem como capacitá-los de competências empreendedoras, entre as quais a resiliência e audácia.

É da responsabilidade de todos ter uma atitude empreendedora perante a sociedade em que vivemos, pois o futuro é de quem o faz! 

Autor:
Rodrigo de Melo e Castro
Project Manager do AUDAX/ISCTE


NOTA: Artigo publicado na Revista Pessoal da APG - Associação Portuguesa dos Gestores e Técnicos de Recursos Humanos, na edição de Abril 2012.

6/29/2011

21 projectos audazes no dia 7 de Julho!


No dia 7 de Julho terá lugar a nossa conferência anual em Empreendedorismo e Criação de Empresas  AUDAX/ISCTE. Este ano convidámos como orador principal Alfredo Casimiro, Presidente do Grupo URBANOS.
As inscrições estão abertas até ao dia 5 de julho aqui.

3/04/2011

CRÓNICAS DA CHINA de Virgínia Trigo: Uma questão de estratégia

Como é habitual por alturas do Ano Novo Chinês, o que aconteceu recentemente em 3 de Fevereiro, recebo sempre inúmeras felicitações e desejos de que o novo ano me seja muito próspero. Vem tudo acompanhado por diversas interpretações do que representa aquele animal no zodíaco chinês e em especial do que ele representará para mim, o que nem sempre é coisa boa ou fácil de entender considerando que a maior parte das traduções foi feita pelo google.



Fiquei pois a saber que este – o ano do Coelho (tu zi em chinês) – irá ser um ano de reflexão em que todos poderemos “respirar e acalmar os nervos”. Deveremos também concentrar-nos na família, na segurança e na diplomacia, o que não parecem ser maus conselhos. Segundo me afiançou a minha amiga Yi Lin, ela própria Coelho, estes figuram sempre na lista das pessoas melhor vestidas, são carismáticos, pensativos e calmos. São também pessoas de confiança para relações de negócio e possuem a qualidade mais admirada por todos os chineses: são grandes estrategas. Numa negociação nunca mostram os seus trunfos até que chegue o momento exacto, e sabem instintivamente o que fazer em cada ocasião.

Yi Lin está mesmo certa de que o seu herói preferido, Zhuge Liang, cujo feito mais notável está descrito no romance clássico “Os Três Reinos”, seria Coelho. O episódio passou-se há muitos anos quando a China estava dividida em três reinos e o exército do temível general Cao Cao se aglomerava na margem norte do rio Yangtse preparando-se para atacar os exércitos dos outros dois reinos, na margem sul, rivais e aliados. Estes eram chefiados por Zhou Yu e Zhuge Liang mas temiam o momento do confronto porque não tinham flechas em número suficiente. Que não se preocupassem, garantiu Zhuge Liang, ele mesmo se encarregaria de arranjar nada menos do que cem mil flechas no prazo de três dias. Tal feito parecia impossível tanto mais que Zhuge Liang, em vez de se dedicar a qualquer actividade digna, passou o tempo a beber e a compor poemas. A única coisa que fez foi ordenar a construção de um sem número de barcos de palha.

Um dia antes de terminado o prazo, quando um espesso nevoeiro se instalou sobre o rio, Zhuge Liang mandou avançar uma vintena de barcos ao ritmo de tambores colocando os outros bem em evidência sobre o cais. Olhando para as imagens fantasmagóricas que avançavam sobre si, Cao Cao, ordenou ao seu exército que disparasse e fê-lo com uma fúria tal que, recolhidos os barcos de palha, a quantidade de flechas ultrapassou largamente o número pretendido.

A figura importante nesta história é o estratega, aquele que sabe aproveitar o potencial de uma situação, o que não se fixa na acção, mas em tudo o que está a montante da acção e nas condições que a propiciam como, neste caso, o nevoeiro habitual no rio naquela época do ano. A eficácia é tanto maior quanto mais discreta for a estratégia.

Quanto a mim, creio que não só Zhuge Liang, mas toda a diplomacia chinesa é Coelho, como ainda recentemente ficou demonstrado nos incidentes de Setembro passado entre a China e o Japão sobre as muito disputadas ilhas de Diaoyu (Senkaku para os japoneses), quando um barco de pesca chinês colidiu com um navio da guarda costeira japonesa culminando com a detenção do capitão chinês. Enquanto ambos os lados clamavam quanto à libertação, a diplomacia chinesa fez discretamente saber que aquelas encomendas de terras raras que o Japão fizera poderiam estar atrasadas ou o preço poderia inclusivamente aumentar. Foi quanto bastou para que o capitão fosse libertado e para que o mundo acordasse para a questão das terras raras, o conjunto de 17 minerais que são utilizados em tudo o que integra a electrónica moderna e a tecnologia “verde” – cada Toyota Prius leva quase um quilo – e de que a China é simplesmente o maior fornecedor mundial.

Enquanto isso, Yi Lin lembrou-me que o Coelho simboliza a lua, enquanto o pavão simboliza o sol. Em conjunto estes dois animais representam o princípio e o fim do dia, o Yin e o Yang da vida, pelo que, no ano do Coelho, a satisfação dos nossos pedidos e desejos poderá ser multiplicada. Se em cada uma das doze luas que hão-de compor este ano tivermos o cuidado de observar a lua cheia, o nosso “eu” interior (qi) será fortificado e a sabedoria entrará nas nossas vidas. É uma questão de estratégia.

Virgínia Trigo
ISCTE Business School

11/25/2010

CRÓNICAS DA CHINA de Virgínia Trigo - 'A Glória Breve da Pasta de Sardinha Manná em Hong Kong'



Se houvesse uma espécie de concurso para Miss Universo entre todas as cidades do mundo, Hong Kong iria por certo ter muitas nomeações: possui o terminal de aeroporto com o maior volume de carga aérea do mundo (cerca de 2,5 milhões de toneladas de carga por ano) e também o maior porto de contentores; o maior consumo de brandy e cognac per capita; o maior número de Rolls Royce por quilómetro quadrado; o maior passeio rolante; o maior consumo de laranjas (25 kg por ano e por pessoa); o maior consumo de collants por cada par de pernas e, com o maior número de bilionários por cada cem milhões de pessoas, os habitantes de Hong Kong mostram-se particularmente imunes a assomos de inveja social.

Em muitos outros aspectos, apesar da ambiciosa concorrência de Xangai, Hong Kong continua imbatível: é considerada pelo Índice de Liberdade Económica da Heritage Foundation, há 16 anos consecutivos, a economia mais livre do mundo; ocupa o segundo lugar no Easy of Doing Business Index do Banco Mundial; possui um sistema financeiro sólido, vastas reservas de divisas estrangeiras, praticamente não tem dívida pública, o sistema legal é forte e as medidas anti-corrupção rigorosas. Tudo garantias para que Hong Kong continue a ser para os serviços – 91% do seu PIB – o coração da Ásia.



Em certos dias Hong Kong tem também as maiores filas à porta das lojas Louis Vuitton de que tenho memória e é, pude por diversas vezes comprová-lo, o sítio onde as pessoas carregam mais depressa no botão “Fechar a Porta” de um elevador quando vêem alguém a correr para entrar. Foi num desses dias, já a sair do elevador, que a minha amiga Nancy Lau me telefonou para pedir, considerando a minha deslocação em breve a Hong Kong, que lhe levasse algumas embalagens de Pasta de Sardinha Manná. De Portugal? perguntei. Sim, esta pasta não podia ser encontrada em Hong Kong e tinha simplesmente desaparecido das prateleiras dos supermercados em Macau. Depois me explicaria.

O fenómeno ficara a dever-se à breve mas entusiástica referência ao produto pela estrela de televisão So Sze Wong na série 2 do seu programa “So Good”. DJ, especialista e crítica de cozinha dotada de um estilo e personalidade únicos, So Sze procura especialidades dentro e fora de Hong Kong para as apresentar a uma vasta audiência que vibra com os seus gestos largos e decididos e sobretudo com os seus famosos “Ah So!” exclamados sempre que se depara com algo que a surpreende ou encanta. E foi precisamente com um “Ah So” profundo e vibrante que ela declarou a pasta de sardinha Manná deliciosa. Para que não restassem dúvidas provou-a ali mesmo, em frente do público e exclamou “Ah So!”. Foi quanto bastou para que, no fim de semana seguinte, a população de Hong Kong se precipitasse para Macau em busca do recém descoberto e precioso produto dizimando-o dos supermercados.

O entusiasmo gerado por So Sze não terá durado mais do que escassas semanas, mas os supermercados levaram algum tempo a recompor-se como sempre acontece quando So Sze desencadeia um súbito interesse em algo, provocando uma urgência premente em o adquirir e, se possível, armazenar. A minha amiga Nancy, como os seus concidadãos de Hong Kong, prefere as noites longas, a vida da cidade, o barulho constante da multidão, as filas que põem à prova o seu estoicismo, uma partilhada impaciência colectiva, mas ainda assim não consegue esconder um certo ressentimento para com So Sze e não apenas por causa da escassez da pasta de sardinha Manná. Logo a seguir e ainda em Macau, So Sze escolheu como alvo uma pequena loja de sopa de fitas que habitualmente servia alunos do liceu que Nancy frequentara em criança. Desorientado e incapaz de corresponder a uma tão súbita avalanche da procura, o dono que pacatamente geria a loja há mais de trinta anos, fechou-a provocando um sentimento de orfandade nas várias gerações que, na sua infância e juventude, se tinham deliciado em Macau com o stock limitado, mas servido de forma generosa, de uma loja que jamais tinham visto fechada.

Virgínia Trigo
ISCTE-IUL Business School

8/10/2010

CRONICAS DA CHINA de Virginia Trigo - 'O Turista da China'


Castelo de S. Jorge


O presidente chinês Hu Jintao suspendeu a visita que tinha programada ao nosso país em 10 e 11 de Julho passados para regressar antecipadamente à China no seguimento dos acontecimentos na província de Xinjiang. Embora tenha delegado no Conselheiro de Estado Dai Bingguo a sua representação na cimeira dos G8, Hu preferiu reprogramar a visita a Portugal, mas fazê-la pessoalmente o que será um indicativo da relevância que a China dá às relações com o nosso país com o qual assinou uma parceria estratégica em 2005. Celebra-se este ano o 30º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre Portugal e a RPC e o 10º da transferência da administração de Macau.

Com Hu viajaria até Lisboa uma delegação de mais de 200 empresários chineses desejosos de alargarem as suas operações para a Europa – a proclamada estratégia going out – alguns deles começando, porque não, por Portugal. Surpreende-me a quase total ausência de notícias e a nenhuma discussão sobre este importante assunto na comunicação social portuguesa. Faz agora precisamente 20 anos que estudo a China, onde vivi, onde vou frequentemente e sobre a qual fiz a minha tese de doutoramento e é-me difícil compreender e aceitar o nosso desinteresse e até menosprezo por aquela que já é a terceira economia do mundo e, eu sei, ameaça tornar-se muito mais. Fruto de intenso trabalho negocial o ISCTE tem um DBA (Doctor of Business Administration) na China e os nossos mais de 30 doutorandos, muitos deles empresários importantes à nossa escala, perguntam-me frequentemente quais as possibilidades de cooperação com o nosso país. O que lhes hei-de responder?

Mas não é Hu Jintao o “turista da China” de que vos quero falar. É Tongyan que visitou Lisboa há duas semanas para um programa doutoral no ISCTE, embora “visitar” seja neste caso um verbo demasiado forte. Tongyan, uma executiva de Pequim, directora de marketing numa importante farmacêutica, começou por recusar todos os meus convites para visitar a nossa cidade argumentando muito que estudar, muito que fazer e não saía da rotina hotel, aulas, hotel. Ao quinto dia consegui convencê-la. E foi ali, na muralha do castelo, enquanto o dia se dissolvia na noite, olhando o azul do Tejo, os barcos ocasionais entre as margens, os telhados derramados sobre a colina, que Tongyan me disse de repente, como numa confissão: “Recomendaram-me que não perdesse muito tempo em Lisboa, que era uma cidade suja, envelhecida, pequena e desordenada, sem qualquer ponto de interesse”. Fiquei chocada. Quem? Precisamente um grupo de médicos chineses, mais de uma dezena, que no princípio de Junho aqui esteve para um congresso internacional. No regresso à China foi essa a mensagem que os médicos levaram da nossa cidade. E andam a espalhá-la.

Semelhante percepção deveria preocupar-nos pois a China será em breve um dos maiores mercados emissores de turistas do mundo. Em cinco anos o número mais do que duplicou: de 16,6 milhões em 2002 passaram para 40,9 milhões em 2007. Gastam em média 2.100 euros por pessoa e por viagem e, enquanto o número de chineses afluentes cresce, aumenta também o seu desejo de viajar estimulado pelo próprio governo através da liberalização e de incentivos como o aumento do número de dias de férias ou de países com estatuto de “destino turístico aprovado”. O turismo de negócios é também cada vez mais importante em resultado do forte crescimento económico do país e da crescente presença da China na economia mundial. Muitos, mais de 87% segundo revelou um inquérito recente, aproveitam para juntar o negócio ao lazer beneficiando com isso o país de destino.

Tongyan poderia ter sido um desses turistas. Tem um rendimento elevado, é curiosa e aventureira, conhece quase toda a Europa e é esta a primeira vez que vem a Portugal. Acha pena que o nosso país e a nossa cidade possam ter ganho uma má reputação e lembra que o turista chinês não é um turista qualquer. Gosta de viajar em pequenos grupos e de maximizar o valor da sua estada onde quer que seja. Programas compactos não são problema, é preciso visitar muito e receber muita informação. Noutros países que Tongyan já visitou os quartos de hotel têm chaleiras eléctricas para a preparação do chá e também folhetos com informação útil do ponto de vista do turista chinês sobre o que e quando fazer. Esses países pretendem encorajar e capacitar os visitantes chineses a darem os primeiros passos e esperam com entusiasmo a continuação das excursões.

Virgínia Trigo

ISCTE Business School

6/18/2010

CRÓNICAS DA CHINA de Virgínia Trigo - 'Negociar na China'

Quando me visitou pela primeira vez no ISCTE o Sr. Souza tinha acabado de ler o meu livro “Como negociar na China?”. Achara-o útil, disse-me, e tinha um conselho a pedir-me. Industrial do Norte o seu primeiro contacto com a China já vinha dos anos 70, de uma feira que visitara num país de Leste e onde se deixara encantar por uns ferros de engomar revestidos a teflon. O produto era ainda uma relativa novidade, mas o Sr. Souza experimentou um exemplar – para que não restassem dúvidas disseram-lhe até que o trouxesse para casa – e o produto era bom e, claro, o preço imbatível. Movendo montanhas, obstáculo atrás de obstáculo – já podem ver, naquela altura – o Sr. Souza encomendou logo um contentor e pôs os ferros à venda. Foi então que a desgraça aconteceu: um após o outro os ferros começaram a ser devolvidos. Com o aquecimento, o teflon derretia e agarrava-se à roupa danificando-a. Entre as reclamações dos clientes e o silêncio obstinado do vendedor de quem nunca recebeu uma única palavra, o Sr. Souza retirou os ferros do mercado e jurou, disse-me que jurou, nunca mais querer ter nada a ver com a China.

Mas veio entretanto a política de abertura, a invasão do mercado por produtos chineses – cada vez melhores e cada vez mais baratos – a entrada na Organização Mundial do Comércio, a China sempre na televisão e nos jornais, uma China séria e responsável. Impressionado, já sem ressentimentos, o Sr. Souza foi à China. E era precisamente sobre essa viagem que me queria falar. Sentou-se na minha frente, os dedos da sua mão direita brincando durante momentos com o relógio do seu braço esquerdo. Depois, já com os cotovelos sobre a secretária exclamou: “Aquilo é gente muito complicada”. Antes não fosse, mas os desejos não são cavalos que possamos cavalgar através dos nossos sonhos.

Depois da visita o seu desejo era bem simples, apenas encetar uma relação comercial, do interesse de ambas as partes. Sim, já tinha visitado a empresa, a empresa era grande, não sabia se era estatal, na realidade não sabia bem o que era, mas tinha muita gente a trabalhar e até conhecia uma pessoa em Xangai que talvez fosse director nesta fábrica de Cantão, mas vendo bem talvez não. Há mais de um ano que trocava correspondência, a menina Xu até sabia inglês se bem que não se pudesse dizer que aquilo era mesmo inglês pois a maior parte das vezes não se entendia. Veja bem o que estamos para aqui a escrever, como vamos sair disto? Na folha de papel que me estendeu o Sr. Souza tinha mandado transcrever a mais recente troca de emails que durava há já três meses:

“Cara Mna. Xu, gostaria de agendar uma reunião consigo, nos V/ escritórios em Guangzhou, para trocarmos ideias, com vista ao desenvolvimento das vendas e das boas relações, entre ambas as companhias. Sugiro os dias 18 e 19, a uma hora mais conveniente para si”.

“Caro Sr., em relação à sua visita, sugerimos que nos visite a 18 ou 19 a uma hora mais conveniente para si. Depois, pode seguir para Portugal, via Hong Kong. Ficamos a aguardar a S/ breve resposta. Obrigado”.

“Cara Mna. Xu, pedimos o favor de nos informar qual a hora mais conveniente para si, para a realização da reunião no dia 18”.

“Caro Sr., a sua visita pode ser 18 ou 19 a uma hora mais conveniente para si. Depois pode seguir para Portugal, via Hong Kong. Se tiver alguma questão, por favor, informe-nos”.

O que é que eles queriam? Porque rodeavam permanentemente o assunto sem dar uma resposta directa? E porque o mandavam seguir logo para Portugal sem que o tivesse perguntado? Era como se a menina Xu estivesse num mundo e o Sr. Souza noutro e ambos (ou um deles?) estivessem a tentar lançar uma ponte ou a furar uma barreira. Sabendo que só as árvores, os animais e as aves dizem verdades totais pois não têm o poder da invenção, desenhámos, o Sr. Souza e eu, uma estratégia para conseguir esta visita. Finalmente, ele foi de novo à China.

Xangai

Entretanto o Eng. Torres, um empresário de Moçambique que conheço, interessou-se há cerca de um ano também pela China. Talvez porque desconhecia em absoluto o país resolveu seguir o meu conselho: não encetar relações comerciais directamente com nenhuma empresa chinesa e utilizar antes os serviços da sua embaixada. Os protocolos que já estabeleceu com um parceiro chinês tiveram a chancela da embaixada e assim, ao mais alto nível, a relação desenrolou-se célere. Agora a preocupação do Eng. Torres não é a existência de negócios com a China, mas antes se o país vai ou não valorizar o renmimbi.

O Sr. Souza regressou na semana passada exausto ainda da sua incursão: muita gente, muito tempo, muito espaço. Imagine-se que o Sr. Souza viajou de Pequim a Zhengzhou e viu – experimentou – o que nunca imaginara ter visto: um autocarro só com beliches. Felizmente coube-lhe a cama de baixo. Entrou no autocarro de sapatos na mão e, com os outros 39 viajantes, preparou-se para enfrentar a viagem de 12 horas. “Diz no seu livro que o Confúcio – não foi? – disse que um homem sincero não se aproveita de um quarto escuro, mas olhe que eles lá não ligam muito a isso.” Contei-lhe do Eng. Torres. O Sr. Souza olhou-me com olhos que, tais como os do Sr. Ventura de Miguel Torga, já tinham visto a China, e perguntou-me: “Mas você acha que eles na nossa embaixada também fazem isso?” Eu não sei.

Virgínia Trigo
ISCTE Business School

6/02/2010

CRÓNICAS COISAS DA VIDA de Virgínia Trigo - O “DESENRASCANÇO”

 Kea

Não é uma palavra bonita, eu sei. De resto, assim substantivada, nem sequer existe no dicionário embora toda a gente a diga. Por mais que procure, não consigo encontrar nenhum sinónimo que exactamente transmita da mesma forma, com igual comunhão de significado, esta nossa capacidade colectiva, afinal uma habilidade para resolvermos, com razoável eficácia, situações difíceis quase sempre em casos extremos. Quando penso no “desenrascanço” vêm-me invariavelmente duas imagens à cabeça: há muitos anos atrás, na Madeira, uma equipa de filmagens francesa filma junto ao mar quando, inadvertidamente, a câmara cai à água. Todos se olham uns aos outros sem saber o que fazer até que o assistente de imagem, um jovem português, a apanha e a desmonta limpando as peças uma a uma, voltando-a a montar outra vez. A partir desse dia e enquanto durou a aura, ele passou a ser considerado a pessoa mais importante da equipa. Na outra imagem eu estou em Estocolmo com um professor sueco que amavelmente acedeu a conduzir-me ao aeroporto dado o meu atraso para apanhar um voo. Entramos no carro, ele liga o motor, agarra no volante e ouvimos um barulho seco “tac”: o volante estava encravado, nem para a direita, nem para a esquerda. E agora? Num impulso eu dou duas curtas e rápidas guinadas ao volante e ele liberta-se. O professor olhou para mim como se eu fosse a pessoa mais inteligente deste mundo. Como não sou especialmente hábil em questões de mecânica só posso atribuir aquela minha súbita inspiração à capacidade que partilho com os meus compatriotas de resolver um problema in extremis, ou seja, de me “desenrascar”.

Este tem sido um segredo só nosso, alojado algures numa camada muito íntima da nossa cultura, do qual não falamos, quando muito falamos baixinho, entre risos subtis e até um pouco envergonhados. Mas eis que o relatório recente de uma Câmara de Comércio de um país estrangeiro vem expor este nosso segredo e se põe a elaborar sobre ele: que o “desenrascanço” está mal aproveitado; que se trata de uma virtude colectiva essencial que pode e deve ser conceptualizada e até cimentada como base de resolução não só dos nossos problemas imediatos mas gerais e futuros; que sobre ele devem ser feitos estudos, teses doutorais, extraídos conceitos. Em suma, aconselham-nos a, muito para além de resultado, estudarmos e pensarmos sobre o processo que permite o “desenrascanço” com o fim de o melhorar, de o tornar sustentável e de o integrar na nossa forma normal – e não apenas in extremis – de fazer as coisas.

Como se não bastasse, por circunstâncias da vida, passei a fazer parte de uma família neozelandesa e descubro, no outro lado do mundo, um povo tão “desenrascado” como nós. Mais até, se isso me é permitido: os neozelandeses não só são eles próprios “desenrascados” como estendem essa característica ao seu reino animal como pude comprovar na reserva natural da ilha de Kapiti onde um papagaio autóctone, o “kea”, me abriu sub-repticiamente a mala para me roubar seis quadrados de chocolate. Foi apanhado em flagrante, mas já tarde, quando abandonava o local do crime.
'mentalidade de 8mm'

Não conhecendo a palavra “desenrascado”, os neozelandeses desculpam-se dizendo que uma pequena nação isolada do resto do mundo tem por força de ser engenhosa e lá está: a Nova Zelândia é a segunda nação do mundo em patentes per capita, logo a seguir à Suíça. Ser engenhoso é semelhante, e contudo diferente, a ser “desenrascado”. O engenho pode ser explicado em dois factores simples: (1) ser capaz de pensar por si próprio; e, muito importante, (2) persistir até se obter o resultado desejado. Dizem também que têm uma “mentalidade 8 mm”, por analogia com o arame de 8mm que serve para reparar tudo o que necessita de resistência (portas, cercas...). Habituados a poucos recursos, mas rodeados de paisagens lindas, os neozelandeses desenvolveram um sentido estético minimalista, tudo simplificando através de uma organização quase obsessiva, desde a decoração das casas até à limpeza e ao arranjo das ruas e dos (muitos) jardins. Talvez por tudo isso não se vejam na Nova Zelândia nem casas muito pobres nem casas muito ricas; nem pedintes na rua; nem paredes vandalizadas nas cidades; nem lojas chinesas a abarrotar de quinquilharia. Isto apesar de a comunidade chinesa representar 2,6% da população e em Portugal cerca de 0,15%.

Ernest Rutherford
Como símbolo deste engenho guardo a memória de uma cerveja que em vez da tradicional acumulação de medalhas de ouro sobre o rótulo, simplesmente anunciava: “Já perdemos conta às medalhas que ganhámos”. “Na Nova Zelândia, como não temos dinheiro, temos de pensar”, disse Ernest Rutherford, um neozelandês que ganhou o prémio Nobel da química em 1908. E estas palavras ficaram a dançar na minha cabeça durante dias seguidos.


Virgínia Trigo
ISCTE Business School

5/19/2010

CRÓNICAS COISAS DA VIDA de Virgínia Trigo - 'Sete Dias em Teerão'


Faz agora dez anos eu estive sete dias em Teerão. Não fosse esta espera de mais de três horas nesta sala de aeroporto e a memória desse tempo teria continuado algures num limbo entre o cérebro e o coração. Mas assim sendo, levanto-me e vou à procura de um livro e vejo este. Na capa estão duas mulheres de lenço preto na cabeça, curvadas sobre as suas próprias mãos. Do seu rosto vem toda a atenção. O que fazem? Lêem às escondidas um livro em Teerão. Também eu já li às escondidas em Teerão, não a Lolita de Nabokov como fazem estas mulheres, mas algo de igualmente proibido e subversivo: eu li uma Elle em Teerão.

Somos um grupo de 40 pessoas dos mais diversos sítios da Ásia trazidas pelo ESCAP(1),  um organismo das Nações Unidas. Somos presidentes ou responsáveis de escolas de turismo e hotelaria da região e já há muito que o Sr. V., o director para o turismo do ESCAP, manobrava nos bastidores para conseguir esta reunião. O Sr. V. tinha um sonho: conseguir unir as escolas de turismo da Ásia numa rede de intercâmbio, uma espécie de Erasmus na manta de retalhos que é a região. E queria começar exactamente por onde a Ásia começa: pelo Irão. Nunca nenhum representante do Irão fora às reuniões preparatórias, mas ainda assim, com a tenacidade de quem se aproxima da reforma e quer a todo o custo deixar obra feita, o Sr. V. conseguiu levar-nos a Teerão. Por isso aqui estamos, as cinco mulheres da delegação devidamente avisadas da nossa aparência: vestes largas, compridas e escuras, sapatos fechados, lenço na cabeça, maquilhagem nem pensar.

Os meus braços revelam-se desde logo uma preocupação: as mangas são afinal demasiado curtas e os dez centímetros de pele que separam o meu punho do início dos dedos são bastante chocantes e não consigo deixar de os olhar. Agarro as mangas com as pontas dos dedos e assim fico até que me entusiasmo a falar e retomo este mau hábito de arregaçar as mangas antes de fazer avançar um argumento. Atento, o guardião que me vigia manda-me puxá-las para baixo. Peço desculpa e obedeço.


O meu quarto de hotel padece das suas próprias queixas e, olhando pela janela, vejo que o verão chegou à cidade e às montanhas que dali se avistam muito antes de nós. Tudo é castanho e pó. Este livro fala de jardins e árvores em Teerão e garante o verde daquelas montanhas numa qualquer estação do ano, mas o único verde na minha memória é o do fato de caqui deste homem que incessantemente canta na televisão. No segundo dia as minhas duas acompanhantes, Omid e Zarrin, nos seus 20 anos, querem visitar o meu quarto. Vamos. Enquanto caminhamos pelos corredores e espaços públicos do hotel fazemo-lo em silêncio ou falando baixinho como é nossa condição, mas assim que a porta se fecha por detrás de nós elas arrancam os lenços e despem as batas: têm jeans e t-shirts, são jovens como outras quaisquer. Que não faz mal, asseguram-me e insistem em ver o meu cabelo. Admiram-se como o posso ter tão curto, será a moda? Vou então à minha mala e tiro de lá a Elle, minha companheira de avião, ajoelhamo-nos quase ao mesmo tempo e começamos a folheá-la. Nessa noite chegamos apenas à página 10. Digo-lhes para a levarem, que fiquem com ela, mas recusam-se, têm medo, por isso volto a guardá-la, dobrada naquela página que Zarrin pediu, disfarçada por entre a roupa.

Assim é o nosso ritual diário. Se pudessem ver-nos... Todas as noites começamos por nos maquilhar acentuando bem os lábios, a parte mais infame do nosso rosto, depois lemos a revista de joelhos, a seguir dançamos, sim dançamos, os braços levantados como em Zorba, o Grego, por fim lavamos a cara e elas vão-se embora com um sorriso tão cúmplice que até pode ser perigoso. No quinto dia o Sr. V. quer chegar a uma resolução: quem organizar a próxima reunião ficará presidente da rede. Candidato-me mas há mais três candidaturas: a Índia, a Tailândia e Hong Kong. Como não consegue chegar ao consenso que sempre procura, o Sr. V. sugere que cada um de nós defenda a sua posição, depois será a votação. Levanto-me para falar e, maldição, arregaço as mangas. O guardião avança para mim, mas aquele era um momento temerário, levanto o braço esquerdo e faço-lhe sinal para parar. E foi com uma mão erguida e a outra em cima da mesa que durante dez minutos defendi as vantagens de Macau e da minha escola e me tornei durante quatro anos na primeira presidente da rede APETIT(2) .

Esta é a nossa última noite, Omid e Zarrin estão orgulhosas de mim e já passámos por uma última provação. Zarrin acedeu hoje ao meu insistente pedido para sairmos fora do hotel e comprar um tapete. Fizemo-lo de cabeça baixa e muito depressa, mas eu senti o desconforto do suspense e que as piores eventualidades pairavam no ar. É esse tapete, dependurado na parede da minha sala, à frente do qual eu hoje me passeio e vejo uma janela que se abre e fecha como Zarrin me ensinou. Um tapete mágico, grita ela atravessando-o com o seu sorriso luminoso para me lembrar que nunca, nem nos meus tempos de adolescente num colégio interno, eu experimentei tamanha solidariedade e cumplicidade, sentimentos tão profundamente humanos como naqueles sete dias em Teerão.

Vírgínia Trigo

(1) Economic and Social Commission for Asia and the Pacific
(2) Asia-Pacific Education and Training Institutions in Tourism

5/07/2010

CRÓNICAS DA CHINA de Virgínia Trigo - 'O Súbito Interesse nos Pastéis de Nata'




Esta é a história de como, no curto espaço de uma década, o pastel de nata saltou do balcão pequeno e escuso de uma pastelaria na ilha de Coloane em Macau para o Kentucky Fried Chicken onde, ao lado da figura sorridente do coronel Sanders, servido com um ice coffee, faz hoje as delícias de todo o Sudeste Asiático. Tudo começou em 1989 numa altura em que um conhecido cozinheiro português se deslocava regularmente ao Hotel Hyatt, na Taipa em Macau, para promover festivais de comida portuguesa. Uma iguaria obrigatória era, claro, o pastel de nata. Por ele se interessou um australiano residente em Macau há já vários anos, farmacêutico de profissão e que após uma tentativa falhada de abrir uma farmácia no Território acabara a trabalhar no casino do hotel. Durante as estadas do chefe português, Andrew não parava de o importunar. E como se consegue esta massa estaladiça de mil folhas? E este creme rico e saboroso? Com uma informação daqui, outra dacolá e o gosto pela experimentação da sua prática farmacêutica, em breve Andrew estava pronto para mudar de vida. Abriu uma pequena pastelaria no canto de um largo em Coloane a que chamou Andrew’s e ali mesmo, apenas com um balcão, sem uma única mesa à qual nos pudéssemos sentar, começou uma gloriosa história de sucesso.

Os pastéis de Andrew não eram bem os ‘nossos’. Ele adaptara-os ao gosto asiático, eram maiores, a massa mais pesada, o recheio mais doce e enjoativo, mas chamara-lhes Portuguese Egg Tarts ou, em cantonense, Portuguese Dan Tat, servia-os quentes e cheios de canela. Aos domingos os turistas de Hong Kong faziam filas para os comprar. Diz-se que um dia um cliente mais entusiasta encomendou nada menos do que 150 dúzias e Macau tornou-se de repente demasiado pequeno para guardar tal segredo. Foi aberta uma filial em Hong Kong, igualmente pequena e escusa, igualmente assediada por uma enorme fila de clientes que ainda mais se adensou quando foi vista e fotografada em penosa espera uma célebre actriz de cinema que apenas queria comprar meia dúzia. O pastel de nata tornou-se companhia obrigatória do chá das 5 em Hong Kong, objecto de troca de presentes e adoçou muitas tardes ásperas nos escritórios das torres de vidro dos especialistas em alta finança da cidade. Em Macau todos queriam aprender a fazê-los, uma espécie de direito moral, dadas as ligações antigas a Lisboa.

Foi neste clima de euforia que um dia recebi um telefonema de alguém que não conhecia, mas que se apresentou como familiar de uma amiga e disse ser chinês de Hong Kong residente no Canadá. Convidava-me para almoçar e queria falar-me de um assunto de interesse comum. Aceitei, incapaz de resistir à mais leve curiosidade e foi assim que me vi no reservado de um primeiro andar de um restaurante na zona mais densamente povoada de Macau. Depois de uma introdução longa em que, um a um, foram consumidos os seis primeiros pratos de uma refeição chinesa, o meu anfitrião confessou-me que, sabendo das minhas ligações a Portugal, visto que eu era portuguesa, o seu desejo era propor-me um negócio de fabricação das famosas Portuguese Egg Tarts, as verdadeiras – nem eu poderia produzir outras, sendo portuguesa – que pudéssemos depois, com legitimidade, introduzir na China. Explicou-me todos os pormenores do negócio e apresentou números: para já milhares e depois milhões de chineses se iriam deliciar com as tartes. Adivinhando alguma relutância da minha parte, o meu interlocutor não hesitou em recorrer à simbologia chinesa, invocando a nossa amizade e colaboração futuras como a imagem de um rio deslizando entre duas montanhas, fertilizando as planícies por onde corre e desaguando numa placidez dourada, no sítio exacto onde bebe o dragão.



Mas por essa altura já Andrew tinha vendido a fórmula do Portuguese Dan Tat ao Kentucky Fried Chicken e este entrara em força em Hong Kong e Taiwan e mais tarde em toda a China. “A febre dos Portuguese egg tart varre a cidade de Taipei” diz o Taiwan Journal de 9 de Novembro de 1998 e acrescenta existirem sinais por todo o lado desde as longas filas nas pastelarias do centro, aos anúncios de parede, à escassez de ovos nos produtores locais. O jornal informa que, para atrair clientes, até uma loja de venda de computadores havia instalado um armário de vidro sobre o balcão com as famosas tartes. Quando a KFC introduziu os pastéis de nata já estes eram conhecidos em Taiwan, mas a sua presença na cadeia contribuiu para aumentar a febre e nem mesmo ela estava preparada para tamanho êxito. O jornal dá conta de muitos oportunistas que, depois de esperarem mais de três ou quatro horas numa fila, os compram às centenas para montarem uma banca logo ali ao virar da esquina e os venderem pelo dobro do preço. Para evitar semelhante comportamento muitas lojas limitaram o número de unidades vendidas a cada cliente o que ainda mais exacerbou o desejo de as comprar. Um representante da KFC confessou-se admirado com tanto sucesso e de certo modo apreensivo pois em regra tamanho alvoroço no início poderá prejudicar o produto no futuro.

Ainda antes do virar do século o pastel de nata já era vendido um pouco por todo o lado na China. Embora muito do entusiasmo inicial se tenha perdido, lembrei-me desta história ao deparar recentemente em Xi’an, no coração da China, com os famosos pastéis em evidência na montra de uma pastelaria da moda. Ao lado deste objecto de eleição estavam uma magnífica embalagem cilíndrica especialmente concebida para 8 unidades, o número da sorte, e um cartaz de fundo dourado e letras vermelhas onde se lia em chinês e inglês: “Portuguese egg tarts, o gosto internacional é mundialmente famoso”. O Portuguese egg tart faz o seu caminho.

Virgínia Trigo

5/01/2010

CRÓNICAS DE EMPREENDEDORISMO de Virgínia Trigo - 'Isto Aqui Não é Inferno'



“Fiar é obra do diabo e isto aqui não é inferno”. Não fora o ar duro e desconfiado da vendedora de frutas e legumes e eu até teria achado graça à improvisada tabuleta, restos de uma caixa de cartão, com os dizeres em maiúsculas, as letras agarrando-se umas às outras para caberem todas já no fim, assim plantada no meio da fruta. Decidi suavizá-la comprando uma couve portuguesa e meia dúzia de maçãs enquanto perguntava apontando para a tabuleta: “os clientes aqui não pagam é?” Que não pagavam, nem ali nem em lado nenhum informou-me com aspereza. Não são os clientes pequenos, a dona de casa ou o reformado que todos os dias compra uma peça de fruta ou uma couve, esses têm de pagar, mas os grandes, os donos de restaurantes ou afins. Da primeira vez que compram pagam, para nos cativar talvez, mas depois é “passe lá pelo estabelecimento que nós liquidamos isto”. Passamos mas não estão, voltamos vezes sem conta e zangam-se connosco: “eu não lhe disse para vir amanhã?” E seria assim com a praça toda? É por todo o lado, eu não sabia?

Sabia, pois. Nas minhas aulas de Empreendedorismo no ISCTE, os alunos de mestrado com experiência empreendedora confrontam-me com isso todas as aulas: “não podemos ‘fiar’ a ninguém a começar pelo Estado”. E sem crédito como pode uma economia funcionar? Nos últimos dois ou três anos temo-nos multiplicado em acções de promoção do empreendedorismo: educação primária, secundária e superior; formação; conferências; legislação; esquemas de financiamento; mentoria... um sem número de acções por todo o lado e por todo o país. Contudo nenhuma actividade empreendedora sustentada se pode desenrolar neste pôr de lado a consciência e colocar a ausência de vergonha no seu lugar.

A riqueza de um país depende da produtividade dos seus cidadãos que, por seu turno, depende dos recursos, da tecnologia e da organização. Muitos países – o Japão e outras economias asiáticas são disso um exemplo – conseguiram ultrapassar a ausência de recursos naturais devido aos avanços tecnológicos e à organização. Como os obstáculos internacionais à aquisição de tecnologia estão hoje quase desaparecidos, o elemento último, a necessidade crucial para se aumentar a produtividade e, consequentemente, a riqueza é o desenvolvimento de uma boa organização. Mas a organização não existe num vácuo, ela opera em sistema, é parte de um grupo de elementos interdependentes e inter-relacionados que formam um todo complexo, isto é, o comportamento de determinados elementos afecta o comportamento de todos os outros.

Se temos como prática pagar tarde ou não pagar, aqueles a quem devemos também não poderão pagar a quem devem, num efeito em cadeia que rapidamente se transforma em bola de neve e que, em sistema, nos vai de novo afectar também. E é assim que o desastre surge na vida e nela vai abrindo o seu caminho. A princípio é uma coisita sem importância, oculta em qualquer canto sombrio, mas acaba por tornar inoperante toda a economia.

O à-vontade, a norma que se instalou entre nós do não pagar como legítimo, socialmente aceite e até representativo de uma certa sagacidade nos negócios – como ilustra o ditado “pagar e morrer quanto mais tarde melhor” – entra na esfera dos princípios morais. Como tal, é vago e abstracto e a sua aplicação aos negócios é frequentemente indeterminada e difícil de executar. Ele traz também muitas outras coisas indesejáveis como a falta de confiança, obviamente generalizada na nossa economia e que, como todos sabemos, impõe elevados custos de transacção e, portanto, rudes golpes no empreendedorismo. O emprendedorismo poderá levar à prosperidade do nosso país, mas o simples desejo de prosperidade não chega para que o empreendedorismo seja um êxito. O facto de se acender lume não significa que haja comida para cozinhar.

Se, neste princípio de 2007, de entre tantos e tão complexos problemas que a nossa economia tem, me pedissem para eleger um, eu escolheria esta indiferença à necessidade de pagar como aquele que mais urge combater. Fechando os olhos e cerrando os punhos pediria dois desejos:

(1) que o Estado não seja como a mãe caranguejo que teima em ensinar os seus filhos a andar a direito. Um Estado que não cumpre os seus prazos de pagamento não pode inspirar os seus cidadãos a que o façam;

(2) que todos nós, cidadãos, saibamos que não podemos passar a vida a enganar, senão acabaremos por nos enganar a nós próprios.

Porque isto aqui não é inferno.

Virgínia Trigo

Texto publicado pela primeira vez no Jornal de Negócios a 02.01.2007

3/15/2010

ISCTE Audaz: LIP DUB com David Fonseca


A partir de uma ideia proposta por alunos do ISCTE-IUL e a Inspiring - Promotora de Eventos, realizou-se no passado dia 13 de Março nas instalações do ISCTE, com a presença de David Fonseca, a gravação sem cortes (Lip Dub) de um vídeo promocional da universidade.

O conceito Lip Dub passa pela criação de um videoclip num único take, isto é,  sem cortes nem edições, onde se combina o lip synching (sincronização de som com movimentos labiais) e o audio dubbing (montagem de músicas ou sons previamente gravados).


Isto é ser audacioso!

AF

1/06/2010

Empresas audazes: Science4you, SA




A Science4you nasceu de uma parceria entre o ISCTE-IUL e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). O Projecto foi financiado por business angels e capital de risco no âmbito do Programa Finicia do IAPMEI, com o apoio do AUDAX.

AF